IA ou AI ? \ estrangeirismos

                Reconheço que os idiomas influenciam uns aos outros. Reconheço que o inglês se tornou o “esperanto” do mercado financeiro e do comércio internacional e nem vale a pena discutir isso, além de usar muitos termos-abreviados e palavras práticas, como A.S.A.P., OK, “Help”.
                Não se pode negar que, o R.S.V.P. e o “merde” do francês, o “ciao” do italiano, o “quizás” do espanhol, eternizado por Nat King Cole, e outros termos que parecem feitos para determinadas coisas ou momentos, todos os adotamos “numa boa”.
                Mas estrangeirismos desnecessários, no nosso português, me incomodam.
Ainda mais quando usados sem necessidade, sem graça, por limitação cultural (falta de vocabulário) ou como esnobismo subserviente, mesmo sem se dar conta.
                Porque falar “tsunami” que, ao que parece, muitas línguas, na falta de termo próprio, adotaram do japonês, se no nosso português temos o “maremoto”?  Será que um “delivery” chega mais rápido que uma “entrega”?
                E o “eqüity”, dito em mesas de negociação para “aporte de capital” ou “patrimônio líquido” quando se quer impressionar os participantes? E quando os tamanhos são ditos em “polegadas”, que nem sistema decimal é?
                São expositores, com o complexo de vira-latas que assola o país, para quem, se a falação (a narrativa?), for em língua estrangeira qualquer bobagem parece inteligente.
Como corolário, a mania de citar “especialistas” e “cientistas” estrangeiros, para dar respaldo a opiniões “da hora” (“da moda”), quase nunca questionadas, mas adotadas pelas tribos a que cada um quer pertencer ou pela mídia em que quer aparecer: o “aquecimento global”, as “mudanças climáticas”, as “vacinas que fazem mal”, “o terraplanismo”, as “fake news” (sempre dos outros), e por aí.
                Então, minha viagem a São Paulo, neste início de primavera, em um voo da LATAM, começou mal: foi só o avião estabilizar na altitude de cruzeiro e o piloto bradar no microfone para todos ouvirem: “tripulação: dez mil pés”.
                Como esses voos são regulados pela ANAC, ficou explícito que o governo brasileiro nada faz contra esses colonialismos culturais, que afetam nossa autodeterminação.
                Mas a viagem “valeu”.
                Além de rever diletos amigos e colegas, participei de um encontro-seminário da ANE – Academia Nacional de Engenharia, no centenário IE – Instituto de Engenharia, para homenagear alguns estudantes de engenharia que submeteram trabalhos a um concurso promovido pela ANE e foram selecionados. Assisti também algumas palestras interessantes.
                “Valeu” pela palestra do Engº Lawrence Koo, que já octagenário, externou toda sua paixão pela vida e pela carreira de engenheiro e “motivador”, contagiando e emocionando a plateia, inclusive a ele mesmo (descobri que não sou o único com essa reação).
                “Valeu” também pela apresentação de uma estudante do ITA, que ganhara um dos prêmios, a Maria Antônia. Segura na apresentação (assunto de controle e instrumentação de pequenos cultivos), com uma rara precisão de linguagem, do nosso português e da nossa capacidade: sempre que seria para falar Inteligência Artificial (IA), que é uma bobagem midiática internacional “da moda”, pois isso não existe, ela evitou e falou Automação Inteligente (AI).
                E foram umas dez vezes. A-d-o-r-e-i.
                Concluí que, apesar de tudo, a vida inteligente e a nossa cultura, vão sobreviver!
 
 
Miguel Fernández y Fernández, engenheiro e cronista, 2025 de set 23, Rd 2.950 toques. 
www.engenheiromiguelfernandez.com.br  (blog do miguel)